sábado, 18 de fevereiro de 2012

Kayapó soltam refém e vão a Brasília


Este é um vídeo muito estranho e muito dramático. Nele encontra-se amarrado e lambuzado de jenipapo um servidor da Funai, que pede clemência aos índios e à presidente da República por sua vida. Não há sinais de grandes maus tratos, mas estar amarrado pelos pulsos e semi-desnudo já demonstra sofrimento e humilhação. O servidor chama-se Manuel Lopes, é da nova safra de servidores concursados da Funai, sem experiência. Fora enviado pela Administração da Funai em Colíder, MT, para conversar com o grupo de 100 Kayapó e Juruna que havia tomado uma pousada localizada na beira do rio Xingu, numa área que os índios consideram terra indígena tradicional e exigem que a Funai dê continuidade ao processo de demarcação. Inocente como um boi de piranha, Lopes foi retido e feito refém. Eis sua história, por ele bem contada.
Manuel foi solto hoje à tarde, muito bem. Melhor para ele e para todos que nada de mal tenha lhe acontecido. Com isso os Kayapó obtiveram o compromisso da Polícia Federal de que serão recebidos em comissão em Brasília para tratar dos três assuntos que estão denunciando: 1. a invasão de pousadas que estragam o meio ambiente do rio Xingu; 2. a falta de continuidade no processo de demarcação da Terra Indígena Kapot Ninhoro; 3. o desleixo com que vêm sendo tratado pela Funai e especialmente pelo atual presidente do órgão.
Quem fez toda a negociação foi a Polícia Federal. A Funai em Brasília perdeu as condições morais e funcionais para negociar com os índios. Já tinha sido assim no caso do sequestro de funcionários da EPE e da Funai por parte dos índios Kayabi, Munduruku e Apiaká, em setembro passado.
A Funai em Colíder, que assiste a diversos grupos Kayapó, Juruna, Kayabi, Apiaká, Terena e Panará, está sendo dirigida por um servidor fiel ao órgão, porém de pouco lastro para enfrentar desafios. Antes a Administração era comandada por Megaron Txukarramãe, que é um dos mais hábeis líderes indígenas já surgidos no Brasil nos últimos 30 anos. Foi demitido por se posicionar contra a usina Belo Monte, num dos escândalos de perseguição política que assola a Funai dos últimos anos.
Em Brasília os Kayapó já estiveram em novembro do ano passado e haviam obtido do secretário geral da Presidência a garantia de que Megaron seria reposto na direção de Colíder e que a direção geral da Funai seria mudada. Debalde.
Agora os Kayapó estarão voltando para pedir a mesma coisa.
Será que conseguirão algo? Será que a presidenta Dilma não vai pôr a mão na consciência e virar o jogo? Será que seus melhores assessores não se dão conta de que a situação indígena tem que mudar, e que não pode ser tratada como vendo sendo nos últimos 5 anos? Será que não vê alternativa ao descalabro que assola a Funai, a desmoralização do órgão, o desrespeito com que os índios são tratados, e, finalmente, como está sendo degradada a questão indígena brasileira???
 
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