quarta-feira, 30 de junho de 2010

SINDSEP-GO pede revogação da reestruturação da Funai

Em mensagem elegante e bem explicativa, o SINDSEP de Goiás pede ao presidente Lula a revogação ou mudanças no decreto de reestruturação da Funai. Pedido que não terá resposta, sem dúvida, mas que dignifica o movimento sindical daquele estado e a união que fizeram com os índios e indigenistas de Goiânia.

Vale a pena notar que o SINDSEP de Goiás tem estado firmemente ao lado dos funcionários da extinta AER Goiânia, manifestando solidariedade inclusive ao movimento indígena contrário àquele Decreto.

O Acampamento Indígena Revolucionário continua lutando em condições cada vez mais adversas das que tinham antes. Um contingente de índios Guajajara voltou às suas aldeias, mas diversos grupos ficaram, e vieram mais alguns do Nordeste.

A determinação do ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, para que a Funai tome providências no sentido de viabilizar a criação de uma coordenação regional em São Luís do Maranhão e transferir duas coordenações, de Maceió para Garanhuns e de Chapecó para Curitiba, parece que anda às moscas. Não há sinal de que a atual direção da Funai esteja preparando essas mudanças.

Impressiona nessa crise que já dura seis meses (completados dia 29 de junho último) a total inabilidade da atual direção da Funai e, mais ainda, seu desprezo pelas demandas dos índios que saíram prejudicados pelo Decreto. Sobre os funcionários da Funai a atual direção não está nem aí. Nem falar na falta de responsabilidade histórica para com o indigenismo.

Mal sabe esse grupo que tomou de conta da Funai , e que a usa ao seu bel-prazer, que a resistência indígena é inquebrantável. Dia menos, dia mais, ela se fará presente.

A atual direção da Funai pode até ganhar batalhas nos confrontos que tem tido com a resistência indígena. Seu poder de enrolação é imenso, dilatado e inescrupuloso. Tem o apoio das ONGs que vivem das beiradas do indigenismo brasileiro e assim toca a vida. Nem se importa com as consequências nefastas de sua atuação para o indigenismo brasileiro, assim como não se sente responsável pelas mudanças no processo de demarcação de terras criadas pelo acórdão do STF na reiteração da homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Quem vier a substituir essa direção vai sofrer muito para tentar recuperar as perdas sofridas.

Neste meião de Copa, onde o Brasil demonstra ter um time sólido e competente, tudo está a meia bomba. Nas aldeias, os índios vibram com os jogos da Seleção e torcem por sua vitória. Como os demais brasileiros, aguardam os próximos jogos.

Muita coisa acontecerá após a Copa. É esperar para ver.

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Oficio nº 097 /SINDSEP-GO/2010.                                             Goiânia/GO, 29 de junho de 2010.


Ao:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

C/ cópia para o Exmo. Sr.,
Ministro da Justiça
Luiz Paulo Barreto

            Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

           O SINTSEP/GO - Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal em Goiás vem mais uma vez, solicitar o apoio de Vossa Excelência, se posicionando firmemente contra o processo da chamada “reestruturação” da FUNAI, elaborada através do Decreto 7056, de 28/12/2009, e reivindicar respeitosamente, que o Estado Brasileiro, através do Poder Executivo Federal, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, possa se sensibilizar no sentido de revogar ou revisar pontos cruciais desse Decreto, extremamente nocivo e nefasto, que trouxe apenas transtornos, desentendimentos, desorganização funcional e administrativa à FUNAI; além, é claro, de não trazer absolutamente nenhum benefício e nenhuma melhoria concreta no atendimento e nem na qualidade de vida dos indígenas e suas comunidades. Pelo contrário, com a publicação do Decreto nº 7056, de 28 de dezembro de 2009, as comunidades indígenas ficaram completamente expostas, desprotegidas e vulneráveis a todos os tipos de invasões e depredações, uma vez que o Decreto extinguiu todos os 344 postos indígenas espalhados por todo o território nacional, que atuavam junto às populações em suas aldeias.
O Decreto também fechou, além de 23 administrações regionais, a Administração Executiva Regional da FUNAI na cidade de Goiânia-GO, deixando sem nenhuma referência e apoio aos índios do estado de Goiás, de outras regiões que transitam pelo estado, além do frágil e pequeno grupo de índios Avá-Canoeiro, sujeitos à extinção total.
               A sede da FUNAI em Goiânia-GO possui suas instalações em imóvel próprio, construído pelo Serviço de Proteção ao Índio – SPI, desde a década 1960, sem ônus para o Governo, devidamente organizada operacional e administrativamente. A sede da Administração é composta de um corpo de funcionários qualificados entre indigenistas, engenheiros, veterinário, sertanista, arquiteto, administrador, agrimensor, artífice, pedagogo, técnico contábil, sociólogo, etc, prestando relevantes serviços e desenvolvendo inúmeras atividades e projetos em prol das comunidades indígenas em todo País.
Conveniente ressaltar ainda que a cidade de Goiânia é um importante centro de serviços, historicamente frequentada por índios de distintas etnias de diversas regiões do Brasil, em virtude da referência da cidade no âmbito nacional dos seus avanços na área médica e de saúde, devido à sua excelente localização geográfica, facilitando o acesso dos indígenas para resolução de suas demandas, proporcionando aos mesmos, segurança e apoio durante a permanência na cidade de Goiânia, através da Administração Executiva da FUNAI existente na referida capital; além de contar ainda, com vários centros de estudos especializados na questão indígena, como o tradicional Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia - IGPA da Universidade Católica, a Universidade Indígena que está sendo construída pela Universidade Federal de Goiânia – UFG, o Centro Cultural Jesco Puttkamer do Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia da Pontifícia Universidade de Goiás, e contar com o Conselho de Assuntos Indígenas do Estado, criado através do Decreto 5.636/2002, o qual é composto por órgãos da esfera Federal e Estadual, como FUNAI, MPF, AGU, Governo do Estado, Comunidades Indígenas entre outros, evidenciando assim o respeito e o compromisso com as questões indígenas no estado.
Em recente reunião do Coordenador Regional de Palmas, com alguns indígenas da etnia Tapuia, o mesmo anunciou aos índios, que toda a estrutura da FUNAI em Goiânia, seria transferida para a cidade de Goiás Velho, distante 120 (cento e vinte) quilômetros de Goiânia; o que demonstra claramente, uma total incoerência e um imenso desperdício de dinheiro público, uma verdadeira imperícia, onde se despreza e esfacela premeditadamente uma estrutura organizada, já existente, para abrir uma outra Unidade em um local inteiramente inadequado, desprovido de um centro comercial e produtivo adequado e não dispor dos aparatos e órgãos judiciais (e outros governamentais) sempre necessários para atender as constantes questões legais das comunidades indígenas; o que com toda certeza obrigará aquela Unidade, a sempre recorrer às facilidades da capital - Goiânia.
Vale a pena também destacar, todo o gasto (pagamento de ajudas de custo, transporte/mudanças, passagens, etc.), que será gerado desnecessariamente, com a remoção de 48 (quarenta e oito) servidores e seus familiares, hoje estabilizados, para essa nova unidade, que fica a somente 120 (cento e vinte) quilômetros da atual, demonstrando mais uma vez, a total falta de lógica e critérios com que a questão vem sendo tratada.
Merece também destaque, a carta pública enviada pela comunidade indígena Tapuia, às autoridades governamentais, implorando ajuda, com seus motivos, para que não deixem que se consumam as mudanças na forma anunciada, contra a vontade própria dos povos indígenas que vivem neste estado (cópia em anexo).
Portanto, diante desta situação inadmissível e injustificável, nosso sincero pleito é de que o Governo Federal faça uma imediata revisão deste incoerente Decreto, tornando viável a reabertura e a manutenção de uma Coordenação Regional da FUNAI na cidade de Goiânia-GO, visto que no momento existem discussões na pauta do Ministério da Justiça para a resolução dos atuais problemas gerados pelo Decreto 7.056/2009, com relação às Administrações de São Luis, Recife e Curitiba; assim rogamos que a situação da Administração de Goiânia, seja incluída na referida pauta, dada a grande importância da FUNAI neste estado (Goiás).

Com os cordiais cumprimentos,

Ademar Rodrigues de Souza
Presidente do Sintsep-GO

terça-feira, 29 de junho de 2010

Em clima de Copa do Mundo!!!


Em clima de Copa do Mundo, índios ocupam sede da Funai
Da Redação

Aproveitando a euforia e o clima descontraído da Copa do Mundo e o jogo da Seleção Brasileira contra o Chile, um grupo de índios terena invadiu ontem a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Campo Grande.

Ao perceberem a chegada de um micoonibus, lotado de índios, vindos de Miranda, os funcionários da Funai pensaram que eles estavam chegando ao prédio para assistir ao jogo da Seleção Brasileira, pelas oitavas de final. Somente depois da ocupação é que os funcionários ficaram sabendo que os índios estavam ali para protestar e pedir a saída do administrador Joãozinho da Silva. O descontentamento dos índios contra administradores da Funai tem sido comum nos últimos anos.

Em novembro de 2008, o administrador Claudionor Miranda foi afastado por suposta prática de fraude financeira. No lugar dele assumiu interinamente em dezembro daquele ano o servidor de carreira, Jorge das Neves, que permaneceu apenas três meses no cargo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Índios Tapuia querem a volta da AER Goiânia


Os Tapuia do Carretão, descendentes de índios Xavante, Karajá e outros povos que foram aldeados no final do século XVIII e que sobreviveram com força indígena e foram reconhecidos pela Funai nos anos 1980, estão extremamente aborrecidos com a reestruturação da Funai.

Já protestaram de diversos modos, estiveram com o presidente Lula por ocasião de uma visita a Goiânia, apelaram para o bispo e para o Papa, e até agora nada.

O documento abaixo trata desse protesto. Como outros povos indígenas que são atendidos pela AER Goiânia, querem a volta dessa administração.

Os Tapuia apoiam o Acampamento Indígena Revolucionário e vão continuar a luta pela revogação do Decreto 7506.

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Evo Morales ameaça expulsar USAID por apoiar movimento indígena

A situação da Bolívia está tomando rumos esquisitos. Pela notícia abaixo, um grupo de índios da Amazônia boliviana resolveu fazer uma marcha de Trinidad até La Paz para pedir mais autonomia. Autonomia Plena, seja lá o que isto quer dizer.

Parece que quem está financiando essa marcha é a agência americana USAID, a mesma que financia diversas ONGs brasileiras, especialmente algumas que têm índios como clientes.

Evo agora promete expulsar a USAID caso se confirme a suspeita de financiamento.

Será?

PS. O interessante é que hoje o presidente Lula, em visita a Altamira, onde reafirmou sua satisfação com a construção da Usina Belo Monte, independentemente das críticas que ouviu de Ongs, da Igreja e dos próprios povos indígenas, ironizou a presença de ONGs estrangeiras no Brasil, especialmente o cineasta do filme AVATAR. No entanto, continua apoiando uma direção da Funai que depende do apoio de ONGs. Durma-se com uma contradição destas!

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Índios marcham por "autonomia plena" na Bolívia


LA PAZ (Reuters) - 
Índios amazônicos da Bolívia marchavam rumo a La Paz exigindo "autonomia plena", em uma manifestação que ameaça provocar novos choques entre o governo de Evo Morales e Washington em meio a rumores de que uma agência norte-americana estaria apoiando o protesto.Cerca de 500 indígenas partiram na segunda-feira da cidade de Trinidad com o propósito de caminhar quase 1.500 quilômetros, informou a imprensa local.
O protesto, que mostrava uma aparente divisão entre as organizações indígenas que antes apoiavam por unanimidade Morales, levou o presidente a renovar nesta terça-feira sua ameaça de expulsar a agência norte-americana de cooperação USAID por supostamente apoiar a marcha.
"Quero novamente advertir: se a USAID seguir financiando mediante algumas ONGs alguns irmãos dirigentes do campo e da cidade, de verdade não tremerei a mão (para) expulsar a USAID e todos estes instrumentos do imperialismo que querem prejudicar este processo de mudança", disse o presidente.
Morales, que em 2008 fez denúncias de ingerência política contra o embaixador e a agência norte-americana antidrogas, afirmou que a linha "anti-imperialista" de seu governo, instalado em 2006, segue sem mudanças.
"Seremos um pequeno país, com certeza, um país em vias de desenvolvimento, mas acima de qualquer que seja nossa situação econômica, social e política, temos dignidade", protestou Morales em discurso a sindicalistas petroleiros transmitido pela televisão estatal.
Desde a posse de Morales, em 2006, os povos indígenas majoritários das regiões andinas e os pequenos povos indígenas da planície oriental ganharam protagonismo político e conquistaram, entre outras mudanças, o direito à autonomia de seus territórios.
O ministro de Autonomias, Carlos Romero, afirmou que o governo cumpriu com todos os seus compromissos e sinalizou que o pedido de "autonomia plena" não é plausível, pois implicava modificar uma nova Constituição que apenas estava entrando em vigência.
A lei de autonomias deve ser aprovada até 22 de julho como parte de um pacote de cinco normas de aplicação da Constituição "plurinacional" e socialista vigente desde fevereiro de 2009 na Bolívia.
(Reportagem de Carlos A. Quiroga L.)

sábado, 19 de junho de 2010

Aldeia Xavante escreve em apoio ao Acampamento Indígena Revolucionário


Carta Xavante ao Acampamento Revolucionario Indígena:

Podem dar continuidade à luta porque nós aqui estaremos apoiando. Estamos conscientes de que vocês estarão lutando até ser atingida a realidade que nós queremos. E queremos que vocês se lembrem de nossos ancestrais que estarão nos ajudando na hora do perigo. Queremos apoiar a todas as pessoas que lutam por nossos direitos, para que continuem nos apoiando, e que isso aconteça com respeito ao que nos deixaram nossos ancestrais. E a luta não acaba aqui, temos que lutar pelo nosso futuro criança, pela lembrança, a verde mata ligada ao universo. Temos que pensar ao que vamos deixar aos que vem depois de nós.

Na nossa comunidade a maioria de nós não fala português, os velhos temem que as crianças não falem mais nossa língua nativa. Lutamos pela nossa cultura, para que continue existindo. Nós não queremos o mesmo que o branco quer para ele nem o que o branco quer para nós, eles querem que paguemos impostos e vivamos como eles querem. Mas a nossa cultura vale mais do que todo o dinheiro, entoamos o grito lançado por nossos ancestrais na mata. A água e a mata pedem socorro. A água do rio que ainda bebemos pede socorro. A mata que ainda nos traz a saúde e o alimento, e que usamos de acordo com a tradição também pedem socorro.  Estamos lutando junto com o grito de nossos ancestrais.

O mundo do branco tem de entender que nós compartilhamos o espaço para ser respeitado, para que a nossa cultura seja respeitada. A nossa luta não é só por um povo, mas pela humanidade, cuidamos das árvores que trazem o ar puro para todos os brasileiros. Mas o desrespeito é tão grande que ninguém mais se reconhece, as pessoas estão ficando alheias umas das outras. Os empresários não estão pensando nisso.

Mas se formos uma nação, vamos dar as mãos porque somos um povo, uma sociedade, que luta pela vida de todos. O que vale é a vida, a sobrevivência, não o preconceito. Dizemos não à discriminação. Que não se dê mais continuidade à miséria em que estamos. Não devemos pensar pensar que os que estamos neste país devem seguir matando e discriminando. Temos que nos ajudar para lutar pela liberdade, não contra nós mesmos. Enquanto nós ficarmos lutando contra nós mesmos os que querem tirar proveito acham bom.

Aqui, seja branco, negro, japonês ou o que for, nossa luta é pela harmônia entre todos. Não defendemos os ricos, mas o direito de todos, e queremos continuar sendo como somos, povo nativo, e ser valorizado como tal. Não estamos originando conflitos com políticos e fazendeiros, são eles que estão gerando esse conflito com a gente porque não nos deixam viver em paz, de nosso jeito. Que haja respeito a cada nação.

Nossa preocupação faz com que nossa luta seja no sentido de manter nossa liberdade e nossos direitos, para que o povo indígena não seja mais tratado como criança, somos adultos, temos filhos, netos e queremos ser tratados como tal. Chega de nos dar tapa na cara como fazem com suas crianças. Está na hora de que os indígenas sejamos respeitados como pessoas que somos. Nossa luta é para todos. Onde vamos beber? Onde vamos pescar? Onde vamos caçar? Cuidamos do meio ambiente. Um dono não bate em seus animais domésticos, mas os indígenas somos tratados pior do que eles.

Todos somos seres vivos, como seres humanos, somos seres vivos, todos queremos sobreviver. Levantamos a bandeira da paz, não queremos a guerra. Nenhum de nós está atrapalhando a vida das pessoas na cidade, estamos vivendo em paz em nossa comunidade, fazendo nossas danças. Queremos parabenizar a luta dos acampados, sabemos que pensam em nós e em todas as comunidades, lutam por todos.

Que o Presidente da República e o Ministro entendam que somos um povo, nenhum deles sequer esteve na Terra Indígena. Devem nos respeitar, trazer aquilo que seja válido para a comunidade, que os políticos tenham essa compreensão para que não aconteça mais esse desrespeito e etnocídio com as comunidades indígenas.

Carta escrita pela Comunidade Indígena
A’uwê Aldeia Belém
Terra Indígena Pimentel Barbosa
Junho 5 de 2010 Mato Grosso

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ministro da Justiça dá (mal) prosseguimento a acordo com AIR

O ministro da justiça, Luiz Paulo Barreto, deu cumprimento ao seu acordo com os índios do Acampamento Indígena Revolucionário ao enviar o Memorando 1375 à presidência da Funai ordenando que seja criada uma unidade gestora como Coordenação Regional na cidade de São Luís e que sejam movidas as coordenações regionais de Maceió para Garanhuns e de Chapecó para Curitiba.

A coisa complicou. Acho que o ministro fez isso em acordo tácito com as possibilidades da atual direção da Funai, que não quer mexer muitos pauzinhos para criar três novas coordenações regionais. Três novas coordenações regionais precisarão de 3 DAS3, 3 DAS2 e 9 DAS1. Compromentimentos políticos em Brasília dificultariam essas disponibilizações, daí porque a atual direção da Funai vem tentando convencer as lideranças indígenas a esperar a criação de novos DAS por medida provisória do presidente Lula. É claro que as lideranças indígenas não aceitam isso porque é, mais uma vez, enrolação.

Pior: problema ainda mais evidente é que nem os índios de Alagoas vão aceitar isso, nem tampouco os de Chapecó!

Que enrascada!

Aló, alô, Ministro Luiz Paulo, fala sério! O acordo foi outro e esse emenda é pior do que o soneto!

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Vitória do Acampamento Indígena Revolucionário

Ontem à noite, já tarde, o ministro Luiz Paulo Barreto recebeu uma comissão de 20 e tantas lideranças representando o Acampamento Indígena Revolucionário. Na sexta-feira passada, através de emissários, o ministro Luiz Paulo tinha confirmado para segunda-feira uma reunião para decidir mudanças no Decreto 7.506/99 que tanto afetou a Funai e que foi o principal motivo da formação do Acampamento Indígena Revolucionário.

Pois bem, na reunião o ministro demonstrou que estava com as cartas na mão e a disposição para fazer as mudanças que as lideranças trouxessem. E assim foi feito. Parcialmente.

Democraticamente, por discussão interna, o AIR decidiu pela reunião, apesar de uma de suas grandes lideranças, Carlos Pankararu, ter decidido não comparecer, esperando uma demonstração favorável da disposição do ministro da Justiça. Na reunião com o ministro estavam alguns dos principais líderes do AIR: Altoê Xukuru, Jocélio Atikum, João Madrugada. Eles foram firmes e tinham razão no que diziam.

O que foi acertado:

1. O Decreto presidencial será revogado e um outro será publicado com as seguintes mudanças:

a. Os índios de Pernambuco irão ter de volta sua administração regional, sua coordenação regional, que seja. Esta coordenação será instalada provavelmente em Recife, onde há tradição e proximidade com o poder público. Entretanto, algumas lideranças indígenas acham que melhor seria em Garanhuns, cidade a 100 km de Recife e próxima dos Fulniô, dos Xukuru e também dos demais índios pernambucanos. Que seja, que venha a ser a que vier.

b. Os índios do Maranhão, especialmente os Guajajara, Urubu-Kaapor, Guajá e alguns Timbira e Gavião irão recuperar sua administração em São Luís.

c. Os índios Kaingang do Paraná irão ter de volta uma de suas administrações, provavelmente Curitiba, mas poderá vir a ser Londrina.

2. Em no máximo quinze dias o novo decreto será publicado.

3. Uma comissão de índios do AIR ficará em Brasília para acompanhar as mudanças no Decreto e sua publicação, a qual será entregue em mãos pelo ministro Luiz Paulo Barreto a essas lideranças.

O certo é que o AIR saiu vitorioso sobre a atual direção da Funai, cujo representante principal nem compareceu à reunião com o ministro Luiz Paulo por exigência dos próprios índios. Foi convidado o Diretor de Assistência, para reconhecer o que estava acontecendo. A Funai terá que buscar recompor a estrutura que criou. Isto quer dizer, buscar novos DAS para refazer aquelas administrações.

E o que será dos índios que perderam suas administrações? O que será dos Xavante, que perderam três administrações, dos Pareci, dos Kayapó, dos índios da região de Altamira, dos índios de Goiás que perderam Goiânia? Dos índios do Oiapoque, de Parintins, de Porto Seguro?

Enfim, abriu-se a porteira, e por onde passa um boi passará uma boiada, eis o veredicto.

Agora os índios do AIR estarão levantando acampamento com a certeza de que obtiveram pelo menos parte daquilo que queriam. Deram um exemplo ao movimento indígena de que podem fazer mais do que o movimento ortodoxo e dominado pelas ONGs. Não tiveram apoio das associações indígenas oficiais, pelo contrário, tiveram a sua hostilização permanente. Não tiveram apoio nem de ONGs nem de CIMI. Mas conseguiram angariar a simpatia e o apoio da sociedade civil de Brasília, de pessoas voluntárias, do sindicato de funcionários públicos, até do MST. Foi realmente um movimento revolucionário, de raiz. Será um exemplo para os índios que estão em ascensão e buscando seu espaço na sociedade brasileira.

E aguentaram firme durante cinco meses!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Este Blog é censurado e condenado por ação ajuizada pela Funai

Recebi hoje à tarde uma CARTA DE INTIMAÇÃO da 15ª Vara da Justiça Federal, de Brasília, que determina que este Blog, citado através da minha pessoa, Mércio Pereira Gomes, julgado e condenado como réu à revelia, junto com a GOOGLE, a JOCUM e a YOUTUBE retirem de seu quadro de postagens um vídeo feito pelo cineasta americano James Cunningham em que encena um suposto infanticídio realizado por índios Zuruahá.

Esse vídeo foi postado no YOUTUBE em maio-junho de 2008, por alguém que certamente tinha acesso à JOCUM, uma entidade missionária que atua entre diversos povos da Amazônia, inclusive os Zuruahá, e que tem se especializado em fazer sensacionalismo e condenar supostas práticas de infanticídio entre alguns povos indígenas brasileiros.

O Documento de Intimação pode ser encontrado no Google Docs na seguinte URL: 
http://docs.google.com/leaf?id=0B9c_LyBU3cf1NDdhYTI0ODctN2ZkYy00ZjM3LWE2ZjctMDI4MDE4ZTBjODQz&hl=en

A condenação foi feita em 25 de maio de 2010 respondendo a uma ação ordinária ajuizada pela Funai, com intermediação do Ministério Público Federal.

Quero relembrar aos leitores desse Blog que esse video, na versão de 3 minutos e pouco, foi postada nesse Blog no dia 26 de junho de 2008 depois que um leitor do YOUTUBE me chamou a atenção. A intenção dessa postagem era de chamar a atenção da Funai, do Ministério Público Federal, da Justiça de um modo geral, e dos leitores para a irresponsabilidade criminoso inerente no vídeo, feito como fabricação de um evento em que são envolvidas crianças pertencentes a um povo indígena, e no modo em que se previa a intenção criminosa do cineasta. A postagem pede que a Funai tome providências para coibir esse tipo de ação e condenar os seus autores.

Não era, como diz a piada do marido traído no sofá de sua casa, para tirar o sofá da sala, e sim para condenar quem produziu o filme. Os autores da ação preferiram retirar o sofá da sala e não fazer nada contra quem produziu o vídeo.

Na justificativa da atual procuradoria da Funai eu sou acusado de promover junto com o YOUTUBE e outros sites uma espécie de propaganda negativa dos Zuruahá. Atribui a mim uma “suposta boa intenção”, sugerindo algo menos do que isso. E propõe que eu deveria ter procurado as vias legais para fazer as denúncias.

Eis como a sentença dessa Carta de Intimação é apresentada:

"Quanto ao réu, MÉRCIO PEREIRA GOMES, revel, não obstante suposta boa intenção, como ex-presidente da Funai, deveria ter procurado as vias administrativas e legais para denunciar a ofensividade do video e as inverdades ali apresentadas. Tem-se sua ação tanto como a exibição propriamente no YOUTUBE como elemento de divulgação e propaganda do mesmo".

Quer dizer, quando algo de ruim acontece em relação os índios, não é permitido colocar em Blog nem em jornal, é preciso levar o fato ou o indício de fato ao Ministério Público, a Funai e outras vias legais.

Ora, o vídeo estava postado há mais de um mês no YOUTUBE, com milhares de visitas e centenas de comentários os mais condenatórios possíveis, alguns claramente racistas e desumanos, e a Funai não tinha tomado conhecimento, ou se o tivesse, não havia feito nada.

Como os fatos demonstram em tantas situações, os índios deste país já estão carecas de saber e de sofrer que denunciar fatos ilegais contra índios levados em forma de documentos para a Funai e o Ministério Público não dá em nada. Ou só acontece quando há interesse de um grupo que vem dominando a política indigenista brasileira nos últimos anos. A coisa só sai da indiferença quando há conhecimento do público em geral e há um levante de indignação! Esta é que foi a intenção da postagem no Blog “Índios, Antropologia, Cultura”, como os leitores podem se lembrar e rever agora. A postagem suscitou comentários de muitos leitores, a maioria de gente ligada a missões protestantes que me acusavam de acatar práticas de infanticídio, quando eles é que erão bons cristãos e estavam divulgando esse filme para alertar o mundo dessas práticas. Porém, indigenistas, antropólogos, e índios que viram essa postagem entenderam o seu sentido e a apoiaram.

De modo que este Blog foi condenado a retirar o referido vídeo e eu sou condenado a pagar inclusive as custas advogatícias da Funai. É demais, convenhamos!

Bem, o vídeo foi retirado, mas os comentários feitos a seu propósito continuam e quero aqui reproduzi-los na íntegra para conhecimento dos participantes desse Blog.


28 de junho de 2008

Nunca imaginei que tivesse que apresentar nesse Blog o filme abaixo. Por favor, não permitam que crianças o vejam.

Apresento-o com o sentimento do dever de fazer uma DENÚNCIA para a Polícia Federal, o Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos, a Funai, o Supremo Tribunal Federal e todas as instâncias judiciais, jurídicas e éticas do BRASIL. E todos os brasileiros.

Exijo que sejam tomadas providências imediatas!!!!
É um filme sobre o enterramento ao vivo de uma criança Zuruahá, um povo indígena que vive nas margens do rio Purus, no estado do Amazonas. Esse povo indígena, desde seu contato em meados da década de 1970, vem sendo assediado por missões religiosas de todos os tipos, desde o CIMI até as missões evangélicas.

O filme foi feito pela organização religiosa JOCUM, que quer dizer Jovens com uma Missão. É uma missão evangélica americana com filial no Brasil.

O filme está sendo veiculado pelo youtube no site www.youtube.com/greendomo. Mais de 63.000 visitas foram feitas a esse filme, com mais de 420 comentários. Comentários de toda sorte, desde gozação até demonstrações de espanto e estarrecimento.

Vejam o filme com o coração na mão, e façam o certo. Denunciem os autores e exijam a presença do Estado brasileiro. Não pode ser por uma Funasa despreparada, nem por uma Funai sem alma.

C E N S U R A D O

Não se sabe se o fato filmado é realístico ou se é só uma encenação de mal gosto.

Mesmo que não tenha sido um fato verdadeiro, o que esperamos, a encenação é criminosa. Os autores do filmes têm que ser processados e os culpados punidos rigorosamente.

Sendo uma encenação, os responsáveis forçaram ou persuadiram os índios a montar toda uma farsa para o benefício de uma missão, que deseja obter simpatia e recursos para permanecer em terras indígenas. Isto é inaceitável e imperdoável.

A Funai não pode ficar parada esperando que mais missões religiosas entrem na Terra Indígena Zuruahá. O CIMI também tem interesse de enviar missionário para esse povo indígena. A Funai tem que formar uma equipe digna de indigenistas para viver com esse povo e ajudá-lo a transpor as dificuldades em que vivem. Dificuldades especialmente de ordem cultural e existencial.

A Funai não pode ficar parada tentando ajeitar a vida das missões religiosas, do lado católico e do lado protestante, para entrar em terras indígenas de povos que estão em contato recente com o mundo brasileiro. Isto vai contra o espírito republicano da política indigenista brasileira, sobretudo do indigenismo rondoniano. As pressões do CIMI sobre a atual gestão da Funai são evidentes. O CIMI apoia diretamente as ações que estão sendo tomadas para diminuir a capacidade de ação do órgão indigenista. Por outro lado, a bancada evangélica no Congresso Nacional pressiona a Funai para permitir a entrada dessas missões religiosas que se pretendem salvadoras dos povos indígenas.

Não basta o que a OPAN fez com os Mynky? Não basta isto que a JOCUM está fazendo com os Zuruahá?

É preciso que o Ministério da Justiça dê um basta na presença de religiosos no mundo indígena de contato recente.

domingo, 6 de junho de 2010

Em texto belíssimo, Acampamento Indígena Revolucionário lança Carta Aberta ao Povo Brasileiro


CARTA ABERTA AO POVO BRASILEIRO

DO ACAMPAMENTO INDÍGENA REVOLUCIONÁRIO INSTALADO EM BRASÍLIA DEFRONTE AO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E CONGRESSO NACIONAL


Os Índios instalados no Acampamento Indígena Revolucionário (AIR), na Capital da República, representando mais de 15 nações indígenas, entendem que tenha chegado o momento de, através da presente Carta Aberta, prestar à Nação brasileira e ao mundo através da rede mundial de computadores (internet) que trata da temática indígena no Brasil, alguns esclarecimentos de forma a evitarmos que informações caluniosas e sem nenhum fundo de verdade venham a tentar minimizar e desacreditar junto à opinião publica nossa luta.

1. O AIR se instalou na Esplanada dos Ministérios em Brasília em 12 de janeiro de 2010, logo após a publicação do Decreto nº 7056/09, elaborado pela atual Direção da FUNAI e assinado pelo Presidente Lula, totalmente à revelia dos Povos Indígenas e que pretende reestruturar o órgão indigenista brasileiro.

2. Sua instalação se deveu e se deve, única e exclusivamente, à forma intransigente, autoritária, antidemocrática e absolutista com a qual a Direção da FUNAI vem tratando o assunto, o que acabou por nos deixar sem qualquer outra alternativa a não ser a de buscarmos através da instalação do AIR e de manifestações pacíficas junto ao Congresso Nacional e opinião pública chamar a atenção das autoridades brasileiras para a grave situação de crise em que se encontra a política indigenista brasileira.

3. Aqueles que acompanham mais de perto o desenrolar dos acontecimentos estão cientes de que a publicação do Decreto nº 7056/09 representa em síntese o esvaziamento e enfraquecimento da representação da FUNAI em suas bases, e, por conseguinte, o descumprimento do compromisso constitucional que a Nação tem com os Povos Indígenas.

4. É fato que tanto os Povos Indígenas como os servidores da FUNAI verdadeiramente comprometidos com a defesa dos direitos indígenas há mais de 30 anos lutam pela reestruturação do órgão, a qual sempre teve como linha mestra a necessidade de fortalecimento do órgão indigenista em suas bases pois sabemos que seu enfraquecimento nos locais onde estão as terras e os povos indígenas só fortalece a atuação daqueles que têm amplos interesses econômicos nas riquezas que lá existem.

5. Ao promover, portanto, uma reestruturação que fragiliza o órgão indigenista, a atual Direção da FUNAI apenas sinaliza a todos para quem de fato está trabalhando e ao defender esses interesses apunhalou pelas costas, de forma maquiavélica e torpe, mais de 600.000 índios brasileiros, bem como rasgou e jogou na latrina compromissos internacionais firmados pelo Brasil, como, por exemplo, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

6. Estamos aqui há mais de 5 meses e daqui não vamos sair pois entendemos que se agora, nesse momento, não lutarmos pelos nossos direitos, não lutarmos para fazermos valer todo um passado de briga, onde tantos dos nossos tombaram, estaremos definitivamente fadados ao fim enquanto Povos Indígenas.

7. Vivemos hoje um retrocesso sem precedentes tanto no trato da questão indígena, como de todo o arcabouço legal que construímos ao longo desses anos e que elevou a Brasil a um ser um dos países com legislação ambiental e até mesmo indigenista mais avançados do mundo. Isso é fato incontestável!

8. Em nome de um crescimento econômico pleiteado por toda a Nação, temos nossos  territórios impactados por estradas, ferrovias, hidrelétricas e outros empreendimentos, todos aprovados pela FUNAI com um simples “sem óbices ao empreendimento x ou y“, sem que nesse processo se garanta o pleno cumprimento da legislação ambiental e indigenista que ainda está em vigor.

9. A UHE Belo Monte é exemplo cabal de nossa afirmativa e serviu para materializar o que até então era de conhecimento de poucos, mesmo porque aqueles poucos servidores que no cumprimento do dever cuidaram de denunciar o que acontecia nos bastidores da FUNAI, foram sistematicamente assediados moralmente pelos atuais dirigentes.

10. As “negociatas“ que envolvem a aprovação de Belo Monte e a exemplar reação da população indígena e não indígena que será irreversivelmente por ela afetada, trazem a público a verdadeira ditadura aos moldes do regime militar em que hoje vivemos, pois não foram somente os técnicos da FUNAI os assediados. Os meios de comunicação têm noticiado freqüentemente a situação dos técnicos do IBAMA e do Instituto Chico Mendes, que também passam pela mesma situação.

11. Antecipamos aqui que, como todos os brasileiros, queremos também o progresso, o desenvolvimento, entretanto esse progresso não pode estar condicionado a deixarmos para as gerações futuras o caos ambiental que hoje gestamos na avidez do lucro para empresários nacionais e internacionais.

12. Lamentamos profundamente que antigos aliados dos Povos Indígenas, sem que tenhamos uma explicação convincente, tenham nos virado as costas, usando instrumentos que lhes tiram a dignidade e a credibilidade na vã tentativa de tirar-nos a credibilidade.

13. A mais recente tentativa busca dar ao nosso movimento conotações de cunho político ao afirmar que estaríamos sendo financiados por partidos de oposição ao atual governo. Cabe inicialmente registrar que o governo já financia seus opositores há muito tempo, basta acessar o Portal da Transparência para constatar nossa afirmativa.

14. Estamos deixando claro que o nosso Acampamento Indígena Revolucionário não tem qualquer vinculação ou motivação político-partidária e vem se mantendo graças ao apoio dos moradores de Brasília e entorno, de instituições de cunho religioso e dos próprios acampados que felizmente a cada dia aumentam.

15. Ao contrário de outros que aqui chegam com diárias de colaborador, de servidor, hospedam-se em bons hotéis, com carro a disposição, aqui estamos contando com a caridade de alguns e a certeza de que nosso movimento é por uma luta justa. Desde janeiro aqui enfrentamos com mulheres e crianças chuva, fome, frio em abrigos improvisados.

16. Estamos sim construindo alianças políticas com o Congresso Nacional, tendo por sinal recebido apoio de parlamentares tanto da situação como da oposição. A nossa luta é isso, não vemos nada de ilegal ou errado. Sem esse apoio não teríamos, por exemplo, como barrar a recente tentativa de criar-se o Conselho Nacional de Política Indigenista, mais um instrumento de manipulação dos Povos Indígenas gestado na nefasta gestão do Sr. Marcio Meira.

17. Sem esse apoio não teríamos como levar aos parlamentares a grave situação de crise imposta ao órgão indigenista pelo Sr Marcio Meira, na expectativa de que nossas denúncias tenham algum eco junto às instituições publicas, em especial junto ao Tribunal de Contas da União a quem cabe investigar o que hoje acontece na FUNAI.

18. Graças a atuação do AIR, o Congresso Nacional sabe do verdadeiro bordel em que hoje se transformou a FUNAI, tendo na figura da Chefe de Gabinete sua maior gerente, pois a ela cabe principalmente as nomeações espúrias de membros de partidos, sindicalistas, amigos, amantes e outros chegados.

19. Hoje a maioria dos cargos comissionados da Fundação Nacional do Índio encontra-se em mãos de pessoas totalmente alheias às atividades e procedimentos legais que normatizam o serviço publico. A prova inconteste de nossa afirmativa é o próprio Decreto nº 7056/09, visivelmente elaborado por pessoas que nada ou pouco entendem das atividades do órgão indigenista.

20. Todas as tentativas até agora adotadas pela Direção da FUNAI no sentido de desqualificar a atuação do AIR não tem encontrado ressonância, não só junto aos índios como também junto a instituições que acreditamos sejam sérias como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Dizer que nosso movimento não tem objetividade de pauta que sustente nossa principal reivindicação que é a revogação do Decreto n. 7056/09 é desconhecer a manifestação de varias Associações Indígenas, do conjunto de servidores da FUNAI através de sua Associação, do SINDESP-DF, da CONDESEF entre outras.

21. Extinguir toda a representação da FUNAI no Estado do Paraná, extinguir após literalmente enganar os Kayapó, a Unidade da FUNAI em Redenção, deixar no abandono índios de recente contato na região da Altamira, onde se instalará Belo Monte, com a extinção da Unidade de Altamira, jogar de forma irresponsável o atendimento de todos os parentes Guajajara para a cidade de Imperatriz, acabar com a Unidade da FUNAI no Estado de Pernambuco, acabar com a Unidade da FUNAI em Tangará da Serra, submeter os Maxacali a uma Unidade em Paulo Afonso na Bahia, esses são apenas alguns dos itens desse nefasto Decreto que fundamentam e dão objetividade a nossa reivindicação.

22. Transferir para Organizações Não Governamentais atribuições que pela Lei são de responsabilidade da FUNAI, como a gestão dos recursos da Renda Indígena, abrindo assim um amplo leque de negócios lucrativos para essas instituições, demonstra o nível de patifaria da atual direção da FUNAI. Cabe destacar que são as ONGs travestidas de associações sem fins lucrativos que hoje ditam as diretrizes da política indigenista brasileira.

23. Submeter servidores do quadro efetivo da Fundação Nacional do Índio a um processo forçado de redistribuição para outros órgãos, impor a todos aqueles que demonstram descontentamento com a atual situação, práticas nazi-fascistas de opressão, esses são outros dos itens desse nefasto Decreto que fundamentam e dão objetividade a nossa reivindicação pela revogação do Decreto nº 7056/09.

24.  O AIR (Acampamento Indígena Revolucionário) tem como segunda reivindicação a imediata exoneração do Senhor Marcio Meira e sua equipe. Sobre esse tema é bom inicialmente recordar que a equipe que hoje dirige a FUNAI foi toda ela exonerada pelo então Ministro da Cultura Gilberto Gil.

25. Na época várias foram as manifestações contrárias ao ato do Ministro. Hoje é premente concluir-se que GIL TINHA RAZAO! Esperamos que agora o Presidente da República tenha a mesma lucidez em exonerar essas pessoas da atual direção da FUNAI, como teve lucidez o Ministro Gilberto Gil em exonerar o patife-mor Marcio Meira. O ato de exoneração à época do Marcio Meira só serviu para que o então Ministério da Cultura (Gilberto Gil) finalizasse o mandato de seu Ministério com tanto brilhantismo, reconhecido nacional e internacionalmente.

26. Pois bem, dando objetividade a nossa segunda reivindicação, apontamos o seguinte:

A) Coube a atual direção um intenso processo de aparelhamento político partidário da FUNAI, que por não ter critérios técnicos mínimos, vêm gerando a quase que paralisação das atividades da Fundação. Já há algum tempo que temos vivido de eternas reuniões, encontros, seminários, todos eles com participação escolhidas a dedo, ou seja, só entra a turma do Presidente, reuniões que ao final redundam em outras reuniões sem que seus resultados venham a alterar a grave situação em que hoje vivem os índios em suas territórios.

B) Tem sido no mínimo vergonhoso o papel da FUNAI nas discussões que tratam de empreendimentos em Territórios Indígenas. Numa inversão de suas atribuições, quem de fato vem ditando as regras e condições nessas discussões têm sido os empreendedores e a Casa Civil. Para os Povos Indígenas a opção é uma só: Ou se aceita ou se aceita!

C) É visível o uso de recursos públicos e do aparelho de Estado em benefício de Organizações Não Governamentais que atuam com a questão indígena. Hoje membros importantes do CTI – Centro de Trabalho Indigenista – integram o quadro de dirigentes e como tais cuidam de convênios ou termos de Cooperação ou simples Pareceres para se auto-beneficiarem.

D) É bom registrar que o CTI é apenas uma das ONGs que hoje penduram-se nas benesses e facilidades que a Fundação Nacional do Índio pode lhes propiciar. Não podemos aqui deixar de registrar a atuação mesmo que indireta de ONGs como o ISA (Instituto Sócio-Ambiental) que teve recentemente um de seus membros mais proeminentes como um dos consultores da CNPI para a elaboração do novo Estatuto dos Povos Indígenas, outra bomba atômica que está para explodir no colo dos Povos Indígenas.

E) Apesar de tecer sérias criticas e divulgar que em sua gestão está acabando com a danosa prática assistencialista da FUNAI, em nenhum momento da história do indigenismo se viu sua execução de forma tão intensa. A recente licitação no valor de R$ 400.000,00 para aquisição de cestas básicas para os Xavantes, além de desnecessária, pois essa atividade é de atribuição da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), evidencia com clareza a forma de gestão dos recursos públicos da atual direção, qual seja, assistencialista e imoral!

F) A cooptação de líderes indígenas, organizações indígenas e índios de um modo geral tem sido de um cinismo sem precedente. Quem por ventura vier a discordar, se resolve via cesta básica, nomeações ou via auxílio financeiro, diária de colaborador e outros instrumentos possíveis de usar. Aos que se mantêm resistindo, a solução foi mais simples ainda: Colocar a Força Nacional  com poder de uso de armas letais na porta da FUNAI há mais de 5 meses.

G) Graças a essa prática, a atual Direção da FUNAI levou ao descrédito o que poderia ter sido um instrumento importante de política indigenista, que foi a Comissão Nacional de Política Indigenista, hoje tendo seus membros indígenas colocados ao extremo descrédito junto a seus representados.

Líderes importantes e históricos do movimento indígena, como Akjaboro Kayapó, foram literalmente usados nesse jogo sujo de cena de representatividade criado pela atual direção da FUNAI.

Registramos aqui a situação de Akjaboro Kayapó, porque acompanhamos através das Atas da CNPI sua luta pelo não fechamento de Redenção, contra a instalação de Belo Monte e em defesa do Plano de Carreira da FUNAI.

Como Akjaboro Kayapó vários outros foram enganados e iludidos pela atual direção da FUNAI com eternas promessas de que nada seria feito sem consultá-los.

H) É visível a intenção da atual direção da FUNAI de acabar com todo um trabalho indigenista de mais de século, no sentido de inviabilizar a convivência pacifica entre os Povos Indígenas quando, adotando de métodos escusos, joga Índios contra Índios, o que resultou em conflito sangrento entre Xavante e Kayapó, na porta da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em janeiro deste ano.

Lembramos ao Presidente da FUNAI que os Povos Indígenas e seus territórios não podem continuar a ser tratados como verdadeiros feudos, que a política indigenista não pode ser levada tentando-se classificar os índios como os índios do Presidente, da ONG X ou Y, do servidor “A”ou “B”.

Esses são, portanto, apenas alguns dos fatos que fundamentam nossa reivindicação quanto à necessidade urgente e premente de exonerar-se a atual direção da FUNAI.

No atual momento inclusive é premente que ela ocorra o quanto antes para que seja possível abrir algum canal decente de negociação com o governo federal.

A máscara de “bom moço” do Sr. Marcio Meira e sua equipe inegavelmente caiu ao chão, a insatisfação de índios e servidores é latente em todo o território nacional e só tende a se agravar.

 Mantê-lo e manter a sua equipe à frente da Fundação Nacional do Índio é gerar para o governo Lula grave desgaste nacional e internacional. Hoje o governo brasileiro encontra-se questionado em vários Fóruns internacionais quanto ao tratamento que vem dando à questão indígena e ambiental.

Para finalizar nossos esclarecimentos não poderíamos deixar de registrar o seguinte:

1. É lamentavelmente visível nesse processo todo a inexplicável omissão do Ministério Publico Federal, a quem caberia nossa defesa. Denúncias escritas, Ofícios, abaixo assinados são encaminhados a essa instituição sobre tudo o que acima registramos e nada é feito.

2. É lamentável que membros importantes do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) tenham se deixado levar por essa farsa em que se transformou a FUNAI e seus dirigentes. Hoje vemos uma atuação no mínimo dúbia dessa ONG que tem uma longa história de luta em nossa defesa. Enquanto o Presidente da instituição luta lado a lado com os Povos Indígenas e não indígenas pela não implantação de Belo Monte, outros membros do CIMI se efetivam ocupando cargos comissionados na FUNAI, portanto diretamente estão a concordar com o que está acontecendo.

3. É lamentável o uso consentido de Organizações Indígenas como a COIAB, APOINME entre outras, por parte da direção da FUNAI. Lembramos que representatividade junto aos Povos Indígenas não se dá através de CNPJ, mas sim através de um sistemático, coerente e honesto trabalho junto aos Povos Indígenas nas aldeias.

Sabemos que algumas dessas organizações caíram em mais uma armadilha governamental, que foi o processo de terceirização de atividades que eram de responsabilidade do Estado e hoje encontram-se em séria situação de dificuldades financeiras.

É exemplar a situação da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), ontem gerenciando milhões de reais da FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), hoje com mais de um milhão em dívidas trabalhistas, em dificuldades junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), o que a forçou inevitavelmente a iniciar uma Campanha pedindo R$ 1,00 a quem possa lhe ajudar.

Como a COIAB, várias outras organizações indígenas estão hoje absolutamente fragilizadas o que as torna presa fácil de interesses outros que não aqueles para as quais foram criadas, que é a defesa dos nossos Povos Indígenas.

4. É lamentável o silêncio de indigenistas, servidores da FUNAI e outros que em passado recente diziam-se parceiros dos indígenas. É justo afirmar que a Associação dos Servidores da FUNAI vem se posicionando desde janeiro contrário ao Decreto, entretanto é fato que, como bem detalhamos, a Fundação Nacional do Índio vive hoje grave situação de assédio moral.

Enquanto uns não falam por simples medo, outros cuidam de aliar-se à atual direção e de alguma forma auferir algum benefício, quer seja através de Cargos Comissionados, quer seja através de diárias, ou através da possibilidade de agasalhar um parente ou amigo.

Por fim, temos o compromisso de alertar a população brasileira para o seguinte: Se hoje são os Povos Indígenas do Acampamento Indígena Revolucionário que lutam para manter vivo o compromisso da Nação pelo direito à liberdade de expressão, pelos direitos que a duras penas conquistamos na última Assembléia Nacional Constituinte, amanhã pode ser  o servidor público, o aposentando e outros cidadãos que se vejam forçados a ir a praça pública lembrar a todos nós que os tempos da ditadura ficaram para trás.

Agradecemos todo o apoio que tem nos prestado a população de Brasília e seu entorno, por compreender que se estamos “enfeiando a Esplanada” “ com nossas toscas barracas é porque nossa realidade nos Territórios Indígenas é bem mais feia.

Esperamos com essa Carta Aberta ter melhor explicado os motivos de nossa luta e que assim outros cidadãos venham a se sensibilizar nos doando gêneros alimentícios e material de limpeza. Não queremos e não autorizamos que em nome do AIR se receba dinheiro da população.

Apelamos aos parentes que chegam a cada dia que passa de outras regiões que tragam consigo seus produtos de roça.

Agradecemos aos parlamentares dos partidos de situação e oposição que verdadeiramente têm se mostrado sensíveis à nossa causa.

Agradecemos através da Associação Nacional dos Servidores da FUNAI o apoio que temos recebido daqueles servidores verdadeiramente comprometidos com a defesa de nossos direitos.

Agradecemos a antropólogos, jornalistas e demais profissionais liberais que vêm disponibilizado seus meios de comunicação para levar à opinião pública nacional e internacional a grave crise que passa a política indigenista brasileira.

Depositamos toda a nossa solidariedade aos parentes que em todo o território nacional, quer seja através de suas Associações, quer seja individualmente, têm apoiado nossa luta. Sabemos que se não tivermos forças para lutar agora, um futuro de opressão e mentiras se apresenta para todos nós.

Esse conjunto de parceiros que hoje temos e que se avoluma com o passar dos dias só reafirma que caminhamos no rumo certo.

Todas as tentativas que vão desde cooptar com benesses nossos membros, seja pela força através do uso da Policia Federal, Forca Nacional e até Polícia Militar, têm apenas servido para mostrar a verdadeira face da atual direção da FUNAI, do Ministério da Justiça e do Governo do Presidente Lula da Silva.

Continuaremos, portanto, aqui acampados!

Continuaremos na busca da abertura de canais legítimos de negociação que passa pela imediata exoneração do Sr. Marcio Meira e a nomeação de uma nova equipe que venha a viabilizar procedimentos de transição capazes de garantir a participação dos Povos Indígenas, servidores e parceiros num processo democrático, transparente e legítimo de reestruturação da FUNAI, que fortaleça a presença do órgão indigenista em sua base.

Conclamamos os parentes que ainda permanecem como membros da Comissão Nacional de Política Indigenista a formalizarem junto ao Ministério da Justiça e a outras instituições, seus pedidos de retirada da dita Comissão, como única forma de não mais se envolverem nesse pântano lamacento em que se transformou a política indigenista gerida pela atual direção da Fundação Nacional do Índio

Brasilia, 06 de junho de 2010

Acampamento Indígena Revolucionário!

Revolucionar não pelas armas, mas revolucionar pela democracia e transparência!

O Direito sem a justiça não é um direito, é apenas um jogo de interesses mesquinhos!  

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O homem que move montanhas, começa carregando pedras pequenas!
Ditado chinês
 
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