quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Antropólogo diz que são apenas 800 mil hectares a serem demarcadas no Mato Grosso do Sul

Fiquei surpreso com a informação trazida numa entrevista após um debate promovido em Campo Grande de que não passariam de 800 mil hectares as terras a serem demarcadas no estado do Mato Grosso do Sul para os índios Guarani e não os 3 milhões de hectares que todos nós esperávamos. E parece que a coisa foi dita com certa facilidade!

Até agora os índios Guarani do MS têm cerca de 60.000 hectares demarcados no Mato Grosso do Sul, com a perspectiva de chegar até uns 100.000 se as terras reconhecidas e com portaria de demarcação encaminhadas no tempo em que eu era presidente da Funai viessem a ser demarcadas, homologadas e desembaraçadas. Octoplicar esse número seria um feito e tanto.

Enquanto isso está tudo parado devido a uma liminar do TRJ, 3ª Turma concedida aos advogados dos fazendeiros antes mesmo dos GTs entrarem no campo.

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Terras destinas à indígenas não passam de 800 mil hectares

A demarcação de terras em Mato Grosso do Sul foi o principal assunto discutido no último dia do seminário “A Imagem dos Povos Indígenas na Mídia”, no CineCultura em Campo Grande, como parte da programação do Vídeo Índio Brasil 2009. No domingo pela manhã, o tema colocado à mesa foi “Nós Estamos Aqui – A Realidade dos Guarani em Mato Grosso do Sul”, discutido pelo antropólogo Rubem Almeida, o historiador Antonio Brand e o cacique Guarani-Kaiowá Ambrósio Vilhalva, mediados pelo coordenador-geral de artesanato da Funai, Pedro Ortale.

Lideranças indígenas falaram da importância da terra para a preservação da cultura. Exemplificando que a relação entre o homem branco e o índio com a terra é diferente. Enquanto um a utiliza para viver o outro faz parte dela.

Para o antropólogo Rubem Almeida a resolução do impasse só pode acontecer com entendimento entre todos os envolvidos. “É preciso diálogo, muita conversa. Na minha opinião não deve ocorrer a criminalização dos produtores rurais. Infelizmente o que ocorre é que o governo não deseja dialogar”.

Rubem ainda chamou a atenção para um dado importante. Segundo ele, as terras destinadas aos povos indígenas seriam infinitamente menores do que a imprensa e o governo ventila. “Falaram em 26 milhões de hectares, outros em três milhões. Pelos meus estudos posso afirmar que, se muito, as terras destinadas a este fim não devem ultrapassar 800 mil hectares”, crê.

O professor e historiador Antônio Brand, coordenador do programa Rede de Saberes do Neppi (Núcleo de Estudos e Pesquisas Indígenas), enfatizou a urgência para a resolução de um problema que afeta 45 mil pessoas em Mato Grosso do Sul. “Infelizmente, a classe política é contra a decisão de demarcar as terras. Mas sem isso será impossível dar qualidade de vida a um povo que vive oprimido”, afirma.

O Pajé Nito Guarani disse desejar apenas que seu direito seja respeitado. “Queremos apenas nosso direito, recuperar nosso território. Antes conversávamos com a natureza, hoje não é possível. Porque acontece o suicídio? Porque nossos irmãos perdem a esperança”. O cacique Ambrósio Vilhalva reiterou ainda a necessidade de uma sociedade mais justa, pois “ninguém é mais que o outro.”

Da platéia, a produtora rural e antropóloga Roseli Maria Ruiz, que acompanhou os seminários no fim de semana, explicou que produtores rurais, assim como os indígenas, também são vítimas. “Minha família comprou as terras há mais de 50 anos. Temos todos os documentos. Assim como os indígenas, somos vítimas de políticos irresponsáveis”. Para ela, o problema deve ser resolvido com entendimento.

O seminário “Nós Estamos Aqui – A Realidade dos Guarani em Mato Grosso do Sul” fechou um ciclo de debates realizados deste o dia 11 deste mês e que discutiu, como tema central “A Imagem dos Povos Indígenas na Mídia”. Passaram pela mesa de discussões antropólogos, caciques, pajés, atores indígenas brasileiros e bolivianos, cineastas índios e não índios, professores de diversas etnias indígenas, jornalistas e produtores culturais.

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