segunda-feira, 27 de abril de 2009

Arrozeiros estão saindo e índios se preparam para a recuperação total da Terra Indígena Raposa Serra do Sol


Está tensa, num certo bom sentido, a situação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Aproxima-se o dia da retirada final (30 de abril, quinta-feira) dos arrozeiros e outros invasores daquela terra indígena, com todos os seus bens, inclusive o produto da última colheita de arroz.

A Polícia Federal, em várias ocasiões, já declarou que está com um efetivo suficiente para forçar essa retirada caso seja necessário. Ao mesmo tempo, tem declarado que tudo indica que os arrozeiros, os mais renitentes dos invasores, estão de fato efetuando a retirada de seus bens. Alguns dizem que necessitam de mais uma semana para colher todo o arroz que está madurando. Outros dizem que precisam de mais tempo para retirar o gado. Enfim, o choro é livre, mas a decisão do STF é irrevogável.

Eis que o principal arrozeiro, Paulo César Quartiero, que já foi eleito prefeito de Pacaraim e destituído por corrupção, declara que, ao se retirar, vai destruir totalmente a fazenda e as benfeitorias que lá estão. Não vai deixar pedra sobre pedra. As escavadeiras estão revolvendo os alicerces das casas e dos galpões.

Seja como for, a tensão é bastante grande. Mas é uma tensão que terá um desfecho esperado. É a tensão dos últimos momentos, em que cautela e tolerância são essenciais para que tudo dê certo sem confusão.

Os índios favoráveis aos arrozeiros já tentaram algumas manobras de protelação, mas hoje estão mais calados. Os índios do CIR (Conselho Indígena de Roraima) estão cientes da importância dessa retirada e da saída total dos invasores de suas terras. Estão se preparando para, em primeiro lugar, fazer a grande conciliação com todo seu povo, independente das desavenças anteriores provocadas pela presença dos invasores, e, concomitantemente, assumir as áreas ocupadas pelos arrozeiros e outros pequenos fazendeiros. Vão precisar de muita capacidade organizativa, da formação de novos líderes e de muitos técnicos para conseguir formular projetos econômicos e sociais para dar um salto de desenvolvimento sustentado em sua terra indígena desocupada.

Que sejam bem sucedidos, que obtenham a ajuda do governo federal e da Funai para tanto. Que as Ongs que os ajudaram mantenham a ajuda, pelo menos por algum tempo.

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Arrozeiro destrói propriedade antes de deixar reserva indígena

Agência Terra

O fazendeiro Paulo César Quartiero decidiu que destruirá a sua propriedade instalada no interior da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a sua saída daquela área até quinta-feira, ele iniciou a demolição de casas, galpões, currais, rede de eletricidade e sistema de irrigação instalados nas duas fazendas que ele possui naquela área - num total de quase 9 mil hectares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Na tarde deste domingo, carretas apropriadas para o transporte de gado deixavam a Fazenda Depósito, que fica a cerca de 170 quilômetros da capital, Boa Vista, e levavam o rebanho da raça canchim que Quartiero possui, com quase cinco mil cabeças. Uma retroescavadeira também trabalhava no local, derrubando paredes e revolvendo pisos.

Quartiero, maior produtor de arroz irrigado de Roraima, também planta soja e cria gado. Ele não possui, no entanto, títulos legais das terras que começou a ocupar no final dos anos 70 - e que agora foram declaradas terras indígenas, na conclusão do processo de demarcação da Raposa Serra do Sol. No mês passado, o STF determinou a saída de todos os não-índios do território.

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