terça-feira, 3 de março de 2009

Drops Indigenistas -- 9

1. Os índios Umutina foram dos primeiros povos indígenas a serem contatados pelo general Rondon, no tempo ainda da expansão das linhas telegráficas pelo Centro-Oeste brasileiro. Sofreram decréscimos populacionais muito graves e viveram pela pressão política e social de serem incorporados à população não-indígena.

Sua terra está demarcada há muitos anos e se situa muito próxima à cidade de Barra dos Bugres, nome sugestivo. Lá o governo do Mato Grosso, no tempo do falecido e saudoso Dante de Oliveira, criou a semente de um programa de educação superior para os povos indígenas que hoje se expandiu para se constituir uma faculdade estadual dedicada exclusivamente aos jovens indígenas universitários -- de todo o Brasil, não só do Mato Grosso, observe. O seu reitor é uma figura dedicadíssima e tem em si o espírito público de um Rondon.

Pois bem, os Umutina usam de sua prerrogativa de serem índios para vender peixe do seu rio durante o período do defeso, que é a ocasião, entre dezembro e abril, que os peixes desovam. Durante anos essa prática foi aceita e os peixes não faltavam nas mesas dos barra-bugrenses. Os atravessadores, que compram o peixe dos pescadores Umutina, faziam a festa.

Em recente investida numa das aldeias próxima à cidade, a Polícia Federal terminou usando de armas com balas de borracha para atacar os índios que resistiam à entrada deles na aldeia. Sete deles ficaram feridos. Chateados, os Umutina viajaram para Cuiabá para denunciar esse ato ao Ministério Público e à Funai. Fecharam a sede e exigiram reparações.

Sem dúvida, não sabemos o que aconteceu entre a Polícia Federal e os índios. Por certo houve truculência, pois a PF vive do assombro de ter algum agente seu aprisionado por índios.

Portanto, haverá do que reclamar. Entretanto, os índios têm que seguir a norma de não pescar no defeso, sem explicações outras. Em terras indígenas amplas, onde os índios pescam para seu consumo, pescar durante o defeso nem faz diferença. Muitos povos indígenas pescam assim quando querem ter grandes quantidades. Porém, no caso dos Umutina, que vivem da venda do pescado, o regulamento é o regulamento.


2. O governo do Pará está mesmo disposto a criar uma lei especial para sua política indigenista. Convocou um seminário para amanhã, dia 4, com a presença de seu secretário de Direitos Humanos e 40 membros do Comitê Intersetorial de Assuntos Indígenas do estado do Pará. Além da Coiab, CNPI, Funai, GTZ, Conservation Internacional, The Nature Conservancy, WWF e mais representantes de tantas organizações que mal caberão na sala reservada.

É muita gente!


3. Os índios Guarani-Ñandeva que estão acampados em pouco mais de 100 hectares de terra na beira da BR-163, no sul do Mato Grosso do Sul, esperam ansiosamente que o ministro Cézar Peluso, do STF, decida sobre o processo de homologação de sua terra indígena, assinada pelo presidente Lula em agosto de 2005.

Essa terra, chamada Ñanderu Marangatu, foi palco de muito sofrimento e uma morte por conta da indecisão do STF. Em 24 de dezembro de 2005, um índio foi morto por um tiro fatal disparado por um segurança-jagunço das terras de um fazendeiro poderoso, cujo filho é um dos líderes do movimento dos fazendeiros contra a demarcação dessa terra e de outras no Estado.

Dois dias atrás uma kombi da Prefeitura de Antônio João atropelou dois índios na estrada, ao lado de suas casas. Os índios estão revoltados com esse destino de espera e de mortes.


4. Uma notícia boa. A Universidade Federal de São Carlos tem se empenhado para abrir suas portas para a entrada de índios qualificados em seus vestibulares especiais. Este ano abriram muitas vagas em vários cursos e muitos índios do Brasil todo passaram.

A notícia divulgada pelo jornal eletrõnico Aquidauana News é de que sete índios Terena da região passaram em cursos raramente com presença de índios. Seus nomes seguem abaixo, com os parabéns desse Blog:

Admam Luis Gomes Lulu, Engenharia Civil
Ariovaldo Massi, Agroecologia
Jacó Miguel Jerônimo, Ciências Econômicas
João Guilherme Martins Sales Silva, Biotecnologia
Jusley Martins Reginaldo, Fisioterapia
Lenilza Candido Julio, Matemática
Oreste Malheiro Vaz, Educação Física
Sander Custódio Martins, Imagem e Som
Valdiro Pedro, Psicologia
Valmir Samuel Farias, Enfermagem
Wagner Lili Sebastião, Ciências da Computação


5. O Aty Guassu realizado em Amambai não foi tão proveitoso quanto se esperava. As decisões apresentadas se resumem ao esforço de exigir que a Funai demarque as terras que prometeu ao criar seis GTs em agosto de 2008, a pedir a ampliação dos serviços administrativos da Funai em cidades como Ponta Porã e Coronel Fabrício, e a deixar em suspenso a decisão sobre a manutenção ou não da administradora Margarida Nicolleti.

Um comentário:

Anônimo disse...

O IBAMA tem se manifestado, já há algum tempo, tratando os índios e suas comunidades como caso de polícia. Promoveram várias unidades de conservação dentro de Terras Indígenas, ameaçando impor aos índios planejamento territorial étno-totalitário (hegemonia dos "brancos"). Estão inclusive procurando atender a demanda dos paízes que detem a biotecnologia - através dos programas do GEF - para acessar o conhecimento sobre as ervas curativas dos índios - mais uma maneira de invadir essas comunidades.
Não são capazes de agir respeitando as diferenças, e muito menos fiscalizar com eficiência.

 
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