quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Drops Indigenistas -- 5


1- O filósofo Denis Rosenfield escreveu um artigo semana passada sobre o infanticídio entre alguns povos indígenas. Rosenfield é filósofo político e nos últimos quatro anos tem se dedicado a defender qualquer causa a favor da direita brasileira. Defende os fazendeiros, a absolutização do direito da propriedade privada, a ordem em si, tudo enfim que diga respeito à preservação do status quo da sociedade brasileira.

Agora ele se meteu a dizer que os antropólogos e os indigenistas defendem o infanticídio em nome do relativismo cultural. Só posso acreditar que Rosenfield está sendo influenciado pelo escândalo criado pela JOCUM com a publicação no YouTube de um filme produzido por um diretor profissional americano em que encena com crianças indígenas Zuruahá uma suposta história de ameaça de infanticídio de uma menina Zuruahá que teria sido salva por um irmão mais velho e depois entregue às mãos e à tutela de um casal de missionário da referida missão.

Sobre essa história já apresentei minha visão neste Blog, e ela provocou muita polêmica com comentários variados, desde os mais insultantes até aqueles ponderados. Não tenho mais o que dizer a respeito. Aliás, a FUNAI respondeu ao meu apelo e uma de suas procuradoras, Dra. Sarah, entrou com um processo contra o YouTube por veicular esse filme. Argumenta corretamente, inclusive, que minha visão do problema é de condenação ao filme por usar crianças em encenações e sobre um assunto auto-condenatório. O processo corre na Justiça e até fui chamado para opinar sobre a questão.

Rosenfield escreve seu artigo como se fosse a primeira pessoa a refletir sobre o infanticídio. Sua intenção é simplesmente condenar, como se fosse um prócer da ética moderna. Seus argumentos são simplórios, próprios de quem quer condenar sem entender. Com efeito, pouco entende da matéria, de quem a pratica, muito menos do que está por trás dessa prática, nem se dá conta de sua profundidade. Sobretudo não se dá conta de que muitos brasileiros vêm pensando sobre o assunto e muitos tantos já tomaram ações positivas para que algumas sociedades indígenas abandonem essa prática. Como de fato abandonaram, sem Torquemadas condenando-as. Nem se dá conta de que os próprios índios, em cujas sociedades se pratica o infanticídio, vêm eles mesmos buscando saídas para essa prática.

Acima de tudo, Rosenfield não se dá conta de que a solução do problema não está na pontificação da acusação, e sim, em uma atitude humanista de encontro da nossa sociedade com as sociedades indígenas. Isto precisa ser feito, mas sei do quanto é difícil. Melhor seria juntar pessoas que entendem da matéria para, junto com lideranças indígenas, buscarem uma solução humanista.


2- O CIMI, com faz todo fim de ano, publicou sua lista de mortes e assassinatos de pessoas indígenas. Traz um número menor do que o do ano retrasado (2007), 53 assassinatos, sendo 40 somente no Mato Grosso do Sul. Como sempre, não especifica se essas mortes foram causadas por disputas de terras ou por desavenças entre índios e entre índios e não índios. E declara um número bem maior de suicídios indígenas, 34, sobretudo entre os Guarani do Mato Grosso do Sul. O CIMI atribui o aumento dos suicídios às tensões pela demarcação de terras na região.

Como o CIMI está apoiando a atual gestão da FUNAI, tendo assento e influência sobre a CNPI, e quer mudar a legislação indigenista brasileira, se exime de análises mais profundas e contundentes sobre o tema desses assassinatos. Solta farpas contra o Governo e contra a FUNAI, mas não se aprofunda em nada. E nem se reporta ao recrudescimento do movimento antiindigenista, que deu um salto no ano passado, provocado pelas atitudes equivocadas da atual gestão da FUNAI.


3- O Núcleo de Apoio da cidade de Bonito, criado em 2006 para apoiar os índios Kadiwéu, está passando por uma crise provocada pela demissão do seu antigo administrador e a nomeação de um índio Terena para o posto. Ora, os Kadiwéu jamais vão aceitar um índio Terena administrando sua base de apoio da FUNAI. Se não mudarem vai dar crise após crise.


4- O novo administrador da AER de Campo Grande, Jorge das Neves, mais conhecido como Jorge Gaguinho, entrou de pé esquerdo nesse ano. Ao tentar resolver a questão do Núcleo de Apoio de Bonito terminou levando um murro de um índio Kadiwéu, em seu próprio escritório. E teve que dar parte desse ato à Polícia Federal. Pelo jeito, não vai durar muito.


5- Os índios Pareci sofreram uma perda incomensurável essa semana com a morte por assassinato da índia Valmireide Zoromará, 42. O fato se deu nas proximidades da Terra Indígena Uirapuru, que está em processo de reconhecimento de ampliação há alguns anos. O assassino confessou o crime. Era o gerente de uma fazenda que está dentro dos limites propostos dessa terra indígena. O marido de Valmireide Zoromará também foi gravamente ferido e está hospitalizado.

Imediatamente os Pareci responderam a esse ato covarde invandindo essa fazenda e montando acampamento permanente. Agora a terra indígena será demarcada.

6 - O novo prefeito de Aquidauana, Fauzi Suleiman, eleito parcialmente pelos votos dos índios Terena do município, começa a fazer os preparativos para estabelecer um bairro na cidade com casas exclusivas de índios Terena. É o que estão chamando de "aldeia urbana", tal como aquela que existe em Campo Grande e uma recém-criada em Curitiba.

O prefeito pretende arrefecer os anseios dos índios Terena por mais terras, pela ampliação da Terra Indígena Cachoeirinha, declarada pelo ministro Tarso Genro em ampliação de 2.700 hectares para 38.000, algo que provocou a reação irada e contundente dos fazendeiros locais e do antiindigenismo matogrossense do sul. O prefeito Fauzi Suleiman está fazendo o jogo do governador Pulcinelli na busca de atalhos para diminuir as tensões no seu município.

Os índios Terena sabem disso. Mas não perdem a pose e estão sempre lutando por melhoras, seja de onde vier.

Esse dilema de urbanização vai se intensificar cada vez mais neste ano. Em parte provocado pelo anseio de índios em viver nas cidades, em parte pela questão de falta de terras para cultivar das novas famílias que estão se formando.

Hoje mesmo o índio Terena-Guarani, Wilson de Mattos, escreveu um artigo no Jornal O Progresso em que pede por uma política de qualificação ao trabalho para seu povo que vive no município de Dourados, MS. Considera Wilson que não há maiores alternativas ao trabalho qualificado. Caso contrário, seu povo vai estiolar na pobreza e na angústia. Wilson defende suas ideias sem medo de críticas que vêm do CIMI e de Ongs que trabalham entre os Guarani.

Um comentário:

Anônimo disse...

Para que os parecis querem mais terra? já tem uma reserva enorme, onde não usam nem um terço, arrendam uma parte para fazendeiros, além disso tem uma boa renda com o pedágio (que desperdiçam em inutilidades, bebidae etc...).

 
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