sábado, 26 de abril de 2008

Procurador federal se defende de acusações da revista VEJA

A revista VEJA publicou na semana passada uma matéria em que acusa de farsa o seqüestro que os Cintas-Largas teriam feito em janeiro deste ano de um procurador federal de Rondônia e de um representante da ONU. A matéria é cabeluda e traz informações dúbias sobre o papel do referido procurador. Acusa-o inclusive de conivência com a exploração e o tráfico de diamantes. Não sei se o seqüestro foi falso ou não, mas a salvação dos seqüestrados, esta sim, foi orquestrada.

A matéria abaixo é a defesa do procurador em entrevista dada em Porto Velho. Ele fala que vai processar a revista. Aliás, sob esse aspecto de colocar notícias de dúbia comprovação, a VEJA é useira contumaz. Eu mesmo fui vítima de uma matéria da VEJA baseada em um dossiê fabricado por um ex-diretor de administração da Funai. Espero que o procurador Reginaldo Pereira da Trindade consiga reparar o estrago feito pela revista em sua imagem.

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Procurador esclarece denúncias da Veja e mostra que fontes da revista foram processadas pelo MPF

Ele anunciou que a revista será processada por danos morais e para que lhe conceda um direito de resposta. Existe a possibilidade de um inquérito criminal para apurar os fatos


RUBENS COUTINHO, jornal eletrônico Tudo Rondônia

O procurador da República Reginaldo Pereira da Trindade reuniu a imprensa na manhã desta sexta-feira na sede do Ministério Público Federal em Porto Velho para desmentir enfaticamente o conteúdo da reportagem da revista Veja desta semana, que o acusa de omissão e até de conivência com a exploração de madeira e diamantes em terras indígenas em Rondônia, além de, supostamente, ter participado de uma farsa para forjar um falso seqüestro pelos índios cintas-largas.

Durante a coletiva, ele anunciou que a revista será processada por danos morais e para que lhe conceda um direito de resposta. Também adiantou que existe a possibilidade de um inquérito criminal para apurar os fatos.

Com relação ao “seqüestro”, Reginaldo esclareceu que estava a serviço do MPF quando compareceu à reserva Roosevelt, em dezembro de 2007, em companhia do comissário da Organização das Nações Unidas David Martins. O objetivo da visita era conversar com índios sobre projeto da ONU para capacitar os indígenas a lutarem por seus direitos em âmbito internacional. “Fui à reserva na condição de convidado da ONU em missão oficial do Ministério Público Federal”.

Logo no início da reunião, o índio Marcelo Cinta-Larga anunciou que Reginaldo e o comissário da ONU ficariam retidos na aldeia até que um representante do Governo fosse à reserva negociar antigas reivindicações da comunidade.
O procurador explicou que pelo menos 100 índios estavam presentes à reunião de dezembro de 2007 e praticamente todos se manifestaram pela permanência forçada dele e do comissário da ONU. “Uns se manifestaram de forma branda, outros foram mais incisivos”, acrescentou.

O clima de tensão só foi amenizado – segundo Reginaldo – quando ele e David Martins se pronunciaram e disseram que estavam ali na condição de amigos dos índios, não de inimigos. Mesmo assim, foi mantido o propósito inicial anunciado por Marcelo Cinta-Larga e todos foram retidos na aldeia contra a vontade, inclusive um motorista da prefeitura de Espigão do Oeste, que teve as chaves do carro apreendidas pelos índios.

O trabalho de Reginaldo na aldeia se estenderia de sábado a terça-feira, por isso, de acordo com o que explicou à imprensa, deixou toda sua bagagem na cidade de Espigão do Oeste. Os índios concordaram em mandar buscar as malas do procurador e liberar sua esposa que o acompanhava na reserva. Nesse aspecto, segundo Reginaldo, a mulher foi a única que permaneceu voluntariamente na reserva porque se recusou a abandoná-lo.

Os índios só concordaram em entregar as chaves do carro e liberar o procurador e o representante da ONU após a chegada do presidente da Funai, Márcio Meira.

“Ao contrário do que diz a revista Veja, não houve farsa, maquinações ou conchavos. Ficamos aquele tempo todo na aldeia contra a nossa vontade. O motorista do carro teve as chaves apreendidas pelos índios. Mesmo que os índios nos liberassem, como poderíamos voltar à cidade nos embrenhando pela mata ?”, questionou o procurador.

Reginaldo Trindade entregou aos jornalistas cópia da carta do motorista confirmando que teve as chaves do carro confiscadas pelos índios e que estas só foram liberadas após as negociações com o presidente da Funai.

SEM VIOLÊNCIA
O procurador reafirmou o que já havia dito quando foi liberado pelos índios: em nenhum momento houve violência contra ele. “Não houve propriamente um seqüestro na acepção própria da palavra, mas ficamos lá contra a nossa vontade, porque não nos deixaram sair”.

Quanto à acusação de omissão ou de conivência com a exploração de madeira na terra dos Suruí, Reginaldo também entregou documentos à imprensa com despacho de 10 de agosto de 2005 onde ele oficia ao Ibama e à Polícia Federal e a outros órgãos de fiscalização ambiental para que atuassem com rigor para impedir a atividade criminosa por parte dos índios.

Reginaldo esclareceu ainda que, antes de se reunir por duas vezes com os Suruí, os índios já haviam decidido que manteriam a exploração de madeira até que o Governo Federal atendesse uma pauta de reivindicações da comunidade indígena. Os Suruí deixaram claro que se a pauta fosse atendida, eles mesmos impediriam a exploração da madeira.
“Ao contrário do que diz a revista, que só publicou fragmentos do meu pronunciamento, tentei convencer os índios a paralisarem a atividade, argumentando que isso seria muito mais simpático junto ao Governo na negociação dos interesses deles”, acrescentou.

Ainda de acordo com o procurador, numa dessas reuniões ele expressou claramente que se a atividade criminosa continuasse, o Ministério Público Federal não teria o poder para conter a ação do Ibama, da Polícia Federal e da Funai, e que nada impediria que os índios sofressem autuações e prisões. “Nunca houve acordo, conchavos ou negociatas, omissão ou conivência com a exploração. As medidas para coibir tal atividade foram tomadas antes e depois das reuniões cujas gravações foram divulgadas pelo site da revista de forma fragmentária e descontextualizadas”.

Na época, por iniciativa do procurador, foi proposta a criação de uma comissão formada pelo MPF, Funai e lideranças indígenas para discutir as reivindicações dos Suruí, mas Reginaldo condicionou sua proposição à paralisação da exploração.

Sobre os vídeos exibidos pela revista em seu site, Reginaldo ressaltou que se trata apenas de um fragmento, e que a parte em que ele se declara frontalmente contra a exploração da madeira foi omitida pela revista.”A reportagem extraiu fragmentos de minha fala nas reuniões e distorceu a realidade, chegando à conclusão absurda de que haveria conivência com uma atividade criminosa”.

Para Reginaldo Pereira da Trindade, a má-fé com que agiu a revista se tornou ainda mais evidente e grave porque os repórteres de Veja ouviram o motorista da equipe que ficou retida em Roosevelt, este falou que os índios haviam tomado as chaves de sua mão e não publicaram nada. “Será que para a reportagem não seria relevante este fato, de que as chaves foram tomadas ?”, questiona o procurador.

Ele disse ainda que um dos repórteres de Veja lhe mandou duas perguntas por escrito para subsidiar a elaboração da matéria. “Encaminhei de volta - e no mesmo dia 17 laudas com absoluta boa fé e honestidade, mas não aproveitaram nada”.

Reginaldo Pereira da Trindade acredita que houve uma maquinação, uma conspiração para lançar nódoa na sua honra. “Não digo isso especulando, digo com provas”.

Algumas fontes que a revista usou para elaborar a reportagem – três funcionários da Funai - foram processadas pelo Ministério Público Federal e acabaram transferidas de Cacoal para outros estados porque, segundo Reginaldo, em vez de defender os índios, faziam era explorá-los. Esses servidores, ainda de acordo com o procurador, não tinham condições éticas de exercer suas atividades, pois estavam saqueando a tribo Suruí. Os três foram afastados pelo juiz federal de Ji-paraná e, posteriormente, transferidos do município. “Esses são as fontes da revista Veja para elaborar sua reportagem sensacionalista, fantasiosa, inverídica”.

Por último, Reginaldo afirmou que interessa a muitas pessoas do Estado acuá-lo, lembrou que foi vítima de pedido de suspeição junto ao Tribunal Regional Eleitoral e que o MPF já processou mais de quinhentas pessoas envolvidas em improbidade administrativa e corrupção de toda ordem.

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