quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Kohokrehnum, o grande líder dos Gaviões


Os Gaviões do Pará são um dos povos mais capazes do panorama indígena brasileiro. Foram contatados em 1957 quando a região de Marabá estava recebendo um novo surto de desenvolvimento econômico, o qual, ao longo dos anos, veio a culminar com a passagem da rodovia Belém-Brasília, a chegada de milhares de imigrantes pobres e de gente esperta para explorar os demais, e, enfim, com a descoberta das maiores jazidas minerais do Brasil, o complexo da Serra dos Carajás.

Os Gaviões são um dos povos timbira que vivem no cerrado tocantinense e maranhense. Por força das movimentações econõmicas e demográficas da região, foram se adaptando à floresta (daí terem sido chamados de Gaviões da Floresta) e desenvolveram novas estratégias de vida. Após o contato, sofreram grandes baixas populacionais. Quando os antropólogos Roberto da Matta e Roque Laraia estiveram com eles em 1965, achavam que estavam para serem extintos, tal o sentimento de desesperança que deles se apossou.

Entretanto, os Gaviões aguentaram o tranco e foram sobrevivendo. Dois grupos timbira a eles se juntaram, por volta de 1973, vindos de outras partes do Pará, onde terminaram perdendo suas terras. Aos poucos os Gaviões foram crescendo. Por esse tempo surgiu a liderança de Kohokrehnum, falando um português imperfeito, mas com uma determinação e uma força de argumentação muito grandes. Por volta de 1975 suas terras estavam demarcadas, uma gleba de mais de 63.000 hectares onde encontravam-se grandes concentrações de castanha do pará.

Quando o linhão de Tucuruí foi passar por suas terras, por volta de 1978, os Gaviões exigiram compensações, e a Eletronorte fez um dos primeiros acordos de compensação diretamente com os índios, com a intermediação da Funai. O diretor da Eletronorte naquela ocasião era José Antonio Muniz, o indigenista que intermediou foi Porfírio Carvalho e a antropóloga que lhes deu assessoria foi Yara Ferraz. Depois, quando a Vale do Rio Doce foi passar a Estrada de Ferro Carajás por dentro de suas terras, os Gaviões conseguiram obter uma verba de 1 milhão de dólares, os quais foram depositados em conta poupança para serem retirados só os juros. Em tempos de alta inflação, dava para sustentar os 200 e poucos Gaviões daquela época.

Hoje os Gaviões são mais de 600. Kohokrenhum é o seu líder principal, o grande negociador do relacionamento dos Gaviões com o mundo dos brancos.

Nesta foto, tirada em 2006 pelo antropólogo Artur Mendes, estávamos conversando sobre a melhor estratégia para negociar a compensação anual da Vale do Rio Doce, que, aliás, continua a negar a sua responsabilidade de compensar os povos indígenas pela utilização de 411.000 hectares onde estão as maiores minas de ferro, cobre e ouro do Brasil. Os Xikrin e os Suruí também estão em luta por seus direitos perante a Vale.

Os Gaviões fizeram história no indigenismo brasileiro. Espero que continuem a fazer história com a sabedoria que angariaram ao longo de suas vidas de muito sofrimento e de recuperação demográfica e cultural.

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