quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Triplicam mortes de indígenas em 2007

Os dados confrontados entre a Funasa e o CIMI mostram que a situação de assassinatos entre índios brasileiros piorou muito esse ano passado. Três vezes mais do que em 2006. É de espantar tantas mortes, tantas brigas internas entre os próprios índios.

Podemos perguntar, por que?

A gestão nova da Funai deu uma resposta envergonhada. "Estamos cuidando disso e já fizemos uma comissão interministerial que está a postos".

Não será porque prometeram tanto e não cumpriram nada? Abriram perspectivas e as fecharam em seguida?

Onde está a indignação do CIMI com o fato de que nenhuma terra indígena no Mato Grosso do Sul foi demarcada ou delimitada?

Onde está a indignação do CIMI com o fato de que nenhuma terra indígena foi demarcada em Santa Catarina, ao contrário, todos os processos estão paralisados?

Cadê a Anistia Internacional fazendo acusações ao Brasil? Por que o silêncio obsequioso? Não será porque o CIMI está tão envolvido com a gestão atual da Funai que não a quer criticar?

Enquanto isso, as Ongs que dominam a Funai estão correndo para realizar as coisas que lhes interessam. Por exemplo, a DAF, cuja diretora é da Ong CTI e seus principais auxiliares são do ISA e do CTI, publicou a criação de diversos grupos de trabalho, usando funcionários do CTI, para estudar o aumento das terras dos índios Apinajé, Krahô e Gaviões. De onde surgiram demandas de aumento de terras numa região que está colonizada há mais de 150 anos, e que já houve imenso esforço por parte dos índios e da Funai, em décadas passadas, para demarcar as terras que eles controlam?

Nessa maré alta de insensatez, tudo pode se esperar das conseqüências. Inclusive dessa Ong que vive de criar ilusões nos índios para depois tirar o corpo fora na hora do vamos ver. Aliás, já tirou, alguns anos atrás, quando tentou ampliar a terra dos Apinajé e seus funcionários foram escorraçados pelos moradores da região.

Quem pode se esquecer da mobilização de índios e indigenistas para demarcar a Terra Indígena Apinajé, em 1985-86, e como os Apinajé aceitaram os limites dessa demarcação! Reabrir essa questão nessa altura da vida nacional é uma temeridade gratuita.

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Assassinato de índios cresce 214% em 2007 em Mato Grosso do Sul

RODRIGO VARGAS
da Agência Folha, em Campo Grande


O número de assassinatos de índios em Mato Grosso do Sul cresceu 214% em 2007 em relação ao ano anterior, aponta balanço da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) divulgado ontem. Foram 44 mortes por esse motivo, ante 14 em 2006.

Também houve aumento de 5% nos casos de suicídios de indígenas no Estado --foram 42, contra 40 no ano anterior.

Ao menos um terço (14) dos homicídios e todos os suicídios ocorreram em áreas das etnias guarani e caiuá, no sul do Estado. São 40 mil índios apenas nessa região, distribuídos por 30 mil hectares --o total de indígenas no Estado é de 64 mil.

A maior parte dos assassinatos --a Funasa não precisou o número, mas citou percentual superior a 90%-- ocorreu dentro das próprias aldeias, e foi motivada por brigas entre os próprios índios.

Os indígenas do sul de Mato Grosso do Sul vivenciam problemas como envolvimento com álcool e drogas e falta de emprego, em meio a conflitos fundiários internos e externos.

Para o coordenador regional da Funasa Flávio Britto Neto, o principal fator responsável pelas mortes de índios é a falta de perspectiva de vida, principalmente entre os jovens. "No caso de Dourados, há o agravante da proximidade com a zona urbana." A região de Dourados abriga 13 mil índios em área de 3.500 hectares.

Para Britto Neto, o número de suicídios de índios da etnia guarani é o problema mais grave. Desde 2001, segundo a Funasa, foram mais de 300, a maioria de jovens de 15 a 19 anos. "Não há paralelo algum no país e talvez no mundo de algo dessa magnitude", disse ele, que citou a contratação de quatro psicólogos como um primeiro passo para enfrentar o problema.

Dados do Cimi

Nesta semana, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) divulgou levantamento nacional sobre mortes de indígenas. Dos 76 casos apurados pela instituição, 48 ocorreram em Mato Grosso do Sul --para a Funasa, a diferença de quatro casos em relação ao seu levantamento pode ter relação com a metodologia empregada para computar casos registrados em áreas de fronteira.

Para o coordenador do regional do Cimi Egon Heck, os números denotam insuficiência de ações do governo federal em relação ao problemas fundiários vividos pelos guaranis e caiuás. "2007 foi o ano em que nada foi feito. Em vez de demarcação de terras, o que se viu foi o incentivo a usinas de álcool. Some-se a isso o agravamento das tensões internas e o resultado é esse círculo vicioso de violência."

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