quinta-feira, 26 de julho de 2007

Kuikuro fazem VT de sua cultura

Matéria da Agência Brasil, que esteve recentemente em Kuarup no Parque Indígena do Xingu, chama a atenção para o fato dos índios estarem fazendo filmes de suas vidas, inclusive de visitantes que vêm ver seus festivais.

Em seguida vem uma entrevista com o jornalista Washington Novaes sobre a nova série que ele fez no Parque, em agosto do ano passado.

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Jovens kuikuro fazem cinema com uma câmera na mão e urucum na cabeça

Pedro Biondi/ABr

Aldeia Ipatse (Parque Indígena do Xingu) - Integrantes do Coletivo Kuikuro de Cinema registram a chegada de visitantes
Aldeia Ipatse (Parque Indígena do Xingu) - “Sorria! Você está sendo filmado” poderia ser a placa de boas-vindas da principal aldeia dos Kuikuro. Cada um que desce do avião monomotor é capturado por jovens pintados – ou melhor, pelas lentes deles. Com urucum no cabelo e tinta de jenipapo no corpo, o grupo de cineastas/jornalistas comunitários/produtores de vídeo registra tudo o que acontece no fim de semana de festa.

Um dos integrantes do Coletivo Kuikuro de Cinema, Maricá Kuikuro, 25 anos, confirma: a intenção é mesmo fazer um espelho, colocar do outro lado os turistas, fotógrafos, cinegrafistas e jornalistas que desembarcam com sede de imagens e depoimentos. “A gente faz já planejado, para pegar a pessoa desapercebida”, diz. “O repórter [não-índio] vem, pergunta a todos, desapercebidos. O pessoal pode gaguejar, não saber responder.”

Enquanto a ala masculina ou a feminina, às vezes ambas, apresentam-se nas danças do beija-flor, da coruja, do martim-pescador ou do papagaio, a equipe com entrevistador, câmera e sonoplasta registra tudo munida de filmadoras, escadas para garantir os melhores ângulos e microfones do tipo boom, que vão na ponta de uma haste longa e evitam ruídos indesejados. Grande parte dos registros culturais reunidos no recém-inaugurado Centro de Documentação Kuikuro foi gravada pelo coletivo de audiovisual. Eles também captam a movimentação da imprensa na praça central da aldeia.

Até o cacique visitante Kuiusi, dos Suyá, porta um gravador para registrar os cantos e os sons das flautas e percussões, assim como o chacoalho dos guizos metálicos nos tornozelos, que acompanham a poeira vermelha levantada pelos pés descalços.

Pelo coletivo dos jovens, Jairão (ou Mahajugi) Kuikuro, 20 anos, leva uma prancheta com uma lista de perguntas em português aos participantes. Em pleno afã jornalístico, indaga às pessoas se elas têm medo de que a cultura da etnia se esvaia. “A maioria responde que não”, diz. Depois de uma breve entrevista, pede licença: “Eu preciso trabalhar”.

Nas produções kuikuro exibidas no último sábado (21), os cineastas mesclam narrativas tradicionais, humor, ficção e referências a pessoas da comunidade. Um dos diretores, Maricá, é filho do chefe Tabata. Ele aparecia, pouco mais que um bebê, na série Xingu – A Terra Mágica, gravada em 1984, aprendendo a pescar com flecha. Na nova série do jornalista Washington Novaes, que tem como subtítulo A Terra Ameaçada, o jovem índio foi assistente de câmera. O irmão de Jairão, Takumã, dividiu com Maricá a direção de Imbé Gikegü – Cheiro de Pequi e Nguné Elü – O Dia em que a Lua Menstruou.

O DVD com os dois trabalhos, lançado no último domingo (22), resulta de parceria entre a Vídeo nas Aldeias, a Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu (Aikax) e o projeto Documenta Kuikuro. É o primeiro da coleção Cineastas Indígenas.

Para as pessoas filmadas que tinham esperança de que o material ficasse só no arquivo, informa Maricá Kuikuro: os vídeos serão editados e distribuídos para cada aldeia do Alto Xingu.

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