domingo, 15 de julho de 2007

Cientista é contra outorga de terras para madeireiros.

O Jornal do Brasil de hoje traz três matérias sobre o tema da outorga de terras da União para madeireiros fazerem manejo florestal.

Esta aqui contém uma entrevista com o cientista petista Aziz Ab´Saber, que condena o projeto de privatizar a Amazônia. Seus argumentos são poderosos, mas não se contrapõem aos do presidente do Serviço Florestal Brasileiro, do MMA, que diz que regulamentar a retirada de madeira é melhor e mais seguro do que deixar os madeireiros ilegalmente fazerem o bacanal que vêm fazendo.

Quem dá mais crédito?

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"Existe terrorismo sobre florestas"

Leandro Mazzini

Brasília. Mal o governo anunciou o lançamento de um edital para licitação de florestas públicas à iniciativa privada, com o objetivo de evitar a devastação da mata amazônica, e já chovem críticas sobre o plano. A principal delas vem de um dos maiores defensores da região, que vê falhas na estratégia. Para Aziz Nacib Ab'Saber, 82 anos, um dos mais respeitáveis geólogos do mundo e estudioso da flora amazônica, o Ministério do Meio Ambiente está "politizado" e não tem consciência de suas ações.

- Existe, no momento, um terrorismo cultural que propala o fim das florestas - critica o especialista, professor da USP.

É notória a preocupação popular com o futuro do eco-sistema da região amazônica, lembra Ab'Saber. Mas há, segundo o professor, um estrondoso movimento político a fim de entregar ao poder privado o que é da União - e isso começa com as concessões. Ontem, o Jornal do Brasil publicou que o interesse do governo é oferecer a exploração sustentável a empresas brasileiras que tenham projetos consistentes para as áreas, mas Aziz vê com ressalvas a idéia da possível participação de bancos, fundos de investimentos e empreiteiras no processo.

- Já fui a Brasília para protestar contra essa idéia de que a concessão vai limitar a devastação - reforça o especialista.

O cadastro nacional do Meio Ambiente tem 1.391 florestas públicas registradas, em 825 cidades do país. O Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF), divulgado semana passada, cadastrou 193 milhões de hectares de reservas, sendo 94% na região amazônica - 43 milhões de hectares passíveis de concessão. No edital de outubro serão oferecidos, a priori, 1 milhão de hectares. O desmatamento será feito em áreas pequenas, sem impacto ambiental.

- Sei como isso vai acontecer: primeiro fazem uma pequena clareira, e depois abrem espaço para as moto-serras. Parece que o pessoal do Meio Ambiente nunca assistiu a esse processo - critica Ab'Saber. - Sou totalmente contra. Se o governo não tiver condições de fazer, ele próprio, a defesa, vai deixar um rastro ruim pela sua História.

Ab'Saber não esconde uma insatisfação com a conduta da ministra Marina Silva à frente do ministério, tampouco com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na questão ecológica.

- Quando o presidente disse que a Amazônia não era intocável, fiquei desesperado, porque foi uma frase capaz de liberar tudo o que fosse possível sobre exploração. As concessões, por menores que sejam, representam áreas imensas - alerta o geógrafo. - O governo tem que engendrar estratégias bem rápidas. O ministério está muito politizado. A Marina faz o que o Lula determinar.

De acordo com Tasso Azevedo, chefe do Serviço Florestal Brasileiro e responsável pelo PAOF, o governo trata com cuidado das concessões justamente para não repetir os erros de outros países, que erraram na fiscalização. Está nesse assunto, inclusive, a maior preocupação. Tasso explica que o ministério terá como acompanhar a exploração permitida nas concessões via satélite. Ab'Saber não acredita.

- Não há monitoramento por satélite capaz de ter essa fiscalização que divulgam. Os caminhões (que carregam a madeira) não vão aparecer nas telas. E como serão muitas concessões, não há pessoal para fiscalizar.

O especialista não se limita aos ataques. Estudioso da floresta amazônica e conhecedor dos problemas da região há mais de 40 anos, indica caminhos alternativos.

- A melhor forma é transformar em reserva o que hoje já sofre devastações. Em 20 anos, nas terras dos fazendeiros e madeireiros, tivemos áreas destruídas que equivalem a duas vezes o Estado de São Paulo.

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